Vida Longa à Igreja Orgânica – uma resposta
Minha mulher se preocupa com a saúde e faz compras em um mercado que vende alimentos orgânicos. Logo descobri que os alimentos orgânicos estragam mais rápido que os que contêm conservantes artificiais. Será que isto se aplica a tudo o que é orgânico, até igrejas? Será que o nosso movimento morrerá um dia? Há uma data de validade para a igreja orgânica?
O Mark Galli da Christianity Today escreveu um artigo na coluna online Soul Work semana passada chamado “Vida Longa à Igreja Orgânica”. No artigo ele demonstra sua admiração, e também preocupação, com o bem estar dos líderes deste movimento. Ele receia que a amarga decepção de ver o fracasso inevitável do nosso movimento pode nos deixar desgostosos e fazer com que abandonemos nosso serviço.
As questões que ele apresenta não são apenas válidas; são percepções que têm me assombrado na última década. A sustentabilidade, a longevidade e a ameaça da institucionalização são matérias que tenho considerado muito. Por outro lado, expectativas irreais e desilusões que podem surgir deste processo nunca me deixaram preocupado.
O que é o sucesso?
Eu não vivo para ter sucesso e sim para seguir a Cristo todos os dias. Se, ao término da minha vida, eu só tiver um punhado de seguidores de Jesus que possam continuar sua obra, não me envergonharei de encontrar meu Senhor. Lendo II Timóteo 4, Paulo estava na mesma situação, mas ele disse que completou a carreira e guardou a fé . Ele também transformou o mundo! Plantou sementes que deram fruto nas gerações posteriores. Havia coisas estabelecidas que trariam mudanças permanentes ao longo dos séculos. Outras coisas duraram uma ou duas gerações. Creio que este é o padrão dos verdadeiros avivamentos. Algumas idéias permanecem para sempre, outras somente por um período.
Bob Logan, meu mentor, já disse, “Sucesso é descobrir o que Deus quer de você e realizar”. Penso que isso seja mesmo verdade. Enquanto existir um Deus vivo e amoroso, este sucesso estará disponível a todos. Apeguei-me muito a uma citação do falecido missiológo Ralph Winter: “O risco não deve ser avaliado pela probabilidade de êxito e sim pelo valor da meta.”
Podemos mudar o mundo?
Devemos fazer discípulos de todas as nações até os confins da terra. Ao fazê-lo, Paulo e seus colaboradores transtornaram o mundo(Atos 17,6).
A transformação da sociedade é a verdadeira marca de um movimento? Creio que sim. Como já disse a muitos que questionam nossa legitimidade, não serão os críticos e especialistas contemporâneos que nos validarão e sim os futuros historiadores. Penso muito nos futuros historiadores e em sua perspectiva quando observo as coisas; isso me ajuda a ter uma idéia maior e mais ampla a respeito do aqui e agora.
Se de fato saturarmos nossa sociedade com seguidores de Cristo vivazes, capazes de fazer discípulos, o mundo mudará. Creio que simplesmente conectar os filhos de Deus ao seu Pai espiritual de forma que elas ouçam a sua voz e, de maneira corajosa, sigam seu direcionamento transformará a sociedade de maneira mais ampla, holística e duradoura que qualquer outra coisa que tentarmos.
A mudança entretanto, não será para todas as gerações. Na verdade, pode até ser que os nossos problemas mais sérios sejam causados por pensarmos que as decisões que tomamos hoje serão permanentes. Acabamos estabelecendo métodos sem que as próprias pessoas ouçam Deus e façam suas próprias escolhas. O resultado é uma instituição religiosa sem vida.
Podemos mudar o futuro??
Homer Simpson já disse: “Penso que as pessoas não mudem de verdade; ou elas mudam rapidamente e depois mudam de novo.” Na verdade, toda transformação é apenas momentânea. E há uma razão para isso: fomos chamados para viver no momento. O amor é a plenitude de toda justiça e sempre é uma escolha. Temos que amar a Deus com todo o nosso ser...todos os dias. Somos a soma das decisões que foram feitas durante toda a nossa vida em momentos específicos e estas decisões compõem a pessoa que vemos no espelho. Deus quer que nós o escolhamos a cada momento de cada dia, não apenas quando somos adolescentes, num retiro à beira da fogueira.
Todas as gerações precisam enfrentar seus próprios testes e fazer suas próprias escolhas. Nossos filhos não se tornam cristãos porque nós escolhemos seguir a Cristo, mas porque eles mesmos decidiram. Se eles estão apenas vivendo as escolhas dos pais, a fé deles não é verdadeira e permanecerá conformada na religiosidade infrutífera. Isso também se aplica às organizações religiosas.
O que podemos deixar para as gerações futuras?
1. O exemplo. Eu aprendi muito estudando sobre pessoas como Paulo, Conde Zinzendorf, John Wesley e Watchman Nee. Talvez os nossos netos estudem nossas vidas e aprendam algo que possam aplicar à sua geração. Se Deus quiser, eles não copiarão o que fizemos, assim como nós não vendemos ingressos como o fez Wesley. O processo da contextualização da verdade para uma nova geração é dinâmico e produz métodos melhores. Isso produz líderes mais instruídos também.
2. Instrução escrita. Muitos hoje em dia citam um livro escrito há quase um século por um missionário anglicano, Roland Allen, - Métodos Missionários: os de Paulo ou os nossos? - Quando escrevo, penso primeiro no impacto imediato que o livro trará sobre um líder hoje, mas eu também me pergunto sobre a relevância que o livro terá daqui a 75 anos. Muitas vezes eu não acerto o segundo alvo (o primeiro alvo também pode ser discutido), mas miro. Nós todos nos apoiamos na perspectiva das gerações anteriores.
3. Mudanças nas leis e valores culturais. Às vezes o trabalho de poucos se torna um legado para muitos. A escravidão já foi uma regra e por causa do movimento instigado por algumas pessoas (William Wilberforce e os Quakers), hoje enxergamos a escravidão como uma abominação. Algumas mudanças nos valores moldam as culturas futuras. Nosso legado pode ser mais que uma rua ou um salão de faculdade que carregue nosso nome.
Todas estas mudanças podem ser duradouras e informar o futuro, mas ainda assim os futuros líderes terão que enfrentar seus próprios testes e fazer suas próprias escolhas.
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