Vida Longa à Igreja Orgânica!
Mas o que faremos se o mundo não for transformado?
Mark Galli | posted 07/01/2010 10:30AM
Eu amo o trabalho que o Neil Cole, Alan Hirsh (The Forgotten Ways), Bob Roberts (Transformation: How Glocal Churches Transform Lives and the World), Frank Viola (Finding Organic Church) e muitos outros estão fazendo. De uma ou outra forma eles são os defensores da “igreja orgânica”. O termo é fluido, mas contém pelo menos três ingredientes: frustração com a igreja que conhecemos, um enfoque nas pessoas (versus programas) e missão (versus manter instituições) e a visão de transformar o mundo.
Como Neil Cole declara em seu livro Igreja Orgânica, “Não é suficiente enchermos nossas igrejas; precisamos transformar o mundo”. Ele faz outra afirmação semelhante em seu livro mais recente, Church 3.0 (Igreja 3.0, ainda sem tradução em português). O livro fala sobre fazer uma transição entre instituições dirigidas por programas e lideradas por um clero para igrejas que sejam “relacionais, simples, íntimas e virais.” Ainda assim, Cole diz “Mudar a igreja não é o propósito deste livro... a única razão para sairmos de Igreja 2.0 para a Igreja 3.0 é mudar o mundo.”
Eu amo a paixão e a palavra profética que isso traz ao institucionalismo (acreditem em mim, eu conheço os males do institucionalismo: sou anglicano!). E a visão de tornar o amor e a graça de Cristo conhecidos aos quatro cantos do planeta.
O que me preocupa é o colapso eminente da igreja orgânica. E após este colapso, eu me preocupo com os homens e mulheres enérgicos que foram pioneiros deste movimento. Será que eles vão se deixar amargurar e abandonar a igreja, e talvez o seu Deus?
Não podemos nos enganar
Eu não tenho dúvidas de que o movimento da igreja orgânica entrará em colapso. Todos os movimentos de renovação na História da Igreja ou saíram dos trilhos imediatamente ou produziram renovação temporária às custas de consequências não-intencionais a longo prazo. Os historiadores da igreja afirmam que na Europa dos séculos 11 e 12, igrejas e capelas brotavam por todo o continente, sinalizando um avivamento da fé após os séculos chamados de “Era das Trevas”. Foi um dos movimentos de plantação de igrejas mais virais da História. Infelizmente, ele nutriu um ardor que queria transformar o mundo para Cristo – e este ardor encontrou lugar nas Cruzadas.
Outros exemplos de fé viral e orgânica semearam a Genebra de Calvino, a América Puritana e o movimento missionário imperialista do século 19. Uma leitura cuidadosa destes eventos sugere que os reformadores eram seguidores de Jesus com as melhores das intenções, que simplesmente queriam fazer a diferença no mundo. E fizeram. Pode-se dizer que eles mudaram o mundo em que viviam para melhor de forma significativa. Mas as consequências não-intencionais, especialmente as relacionadas à reputação da igreja e dos cristãos, tornam os esforços deles uma troca questionável. Não era com esta transformação que sonhávamos.
Desconsideremos os exemplos radicais e somente observemos a vida cotidiana, normal e contínua da igreja local século a século. Este não é um exemplo claro de mal, mas simplesmente intenções boas em coma. Institucional. Pragmática. E cheia de pessoas cujas vidas não demonstram transformação. As Igrejas vez após vez, em qualquer cultura parecem ser compostas somente de pecadores. Estamos nos enganando se pensamos que é a nossa geração que vai mudar as coisas.
É exatamente por isso que muitos dos meus colegas no Seminário abandonaram o ministério. Eles esbarraram no muro do legalismo, letargia ou pura dureza do coração cristão e disseram: Basta! Eu tenho um amigo da California que prefere lidar com as dores de cabeça do mundo corporativo a lidar com as da igreja. Eu ouso dizer que os leitores desta coluna conhecem um ou mais líderes de ministérios que estão esgotados ou irados.
E então, quando o movimento da igreja orgânica seguir seu curso – talvez nesta geração ou em duas ou três – o que vai acontecer? O que será daqueles que deram seus melhores anos e suas fortunas a causas conquistadas a duras penas somente para perceber que o mundo não foi de fato transformado ou que eles plantaram sementes de consequências não-intencionais amargas? E se a igreja nunca entender isso e voltar a se institucionalizar? Eu temo que eles se tornem amargurados em relação à igreja e a Deus. Seria totalmente compreensível se isso acontecesse. É terrível ficar decepcionado com Deus quando você sacrificou tudo para promover o que cria ser o propósito dEle. Mas é em meio a tanta decepção – até uma decepção inevitável – que nos lembramos da sabedoria de Paulo, nos encorajando a sermos “obedientes de coração”(Romanos 6,17)
Um caminho mais excelente
O fato de tudo que empreendermos não necessariamente produzir resultados não é razão para não fazermos nada. Longe disso. O erro que cometemos muitas vezes é só fazermos o que cremos que fará a diferença. Quando é este o caso, a nossa razão e o que nos motiva é a mudança. Se a mudança não acontece ou não acontecer da forma que esperamos, não temos nenhum recurso a não ser entrarmos em pânico. Mas há um caminho mais excelente.
É o caminho do amor, ou mais particularmente, amar a obediência. Jesus não nos chama para fazermos a diferença no mundo, muito menos transformá-lo. No Sermão da Montanha (Mateus 5,13-16), ele nos diz que seremos “sal” – isto é, nós preservaremos o mundo de uma auto-destruição total. Não é uma tarefa pequena, mas não significa a transformação do mundo. Ele também nos diz que seremos “luz”, isso é, ajudaremos as pessoas a verem sua verdade. Mas quando as pessoas vêem a verdade, é comum endurecerem o coração. Ou pior: surge hostilidade e os que carregam a luz são lançados na prisão ou mortos e os que que deviam receber a luz permanecem nas trevas.
Sal e luz – esta é a extensão da nossa eficácia. Nada sobre transformar o mundo através de nossos esforços. Jesus nos chamou ao mundo para realizarmos coisas: pregar, batizar, ensinar e curar. Mas ele não prometeu resultados. A diligência fiel em tais tarefas, algumas vezes, transformará vidas e comunidades. E quando isso acontece podemos nos regozijar pois Ele nos permitiu ver Sua obra! Mas em muitas oportunidades onde a igreja obedeceu fielmente, ela só passou por dificuldades – uma violência que parecia piorar a situação tanto para a vítima quanto para o executor.
O fato é que Deus às vezes nos chama para fazer coisas que não fazem sentido para os que calculam a eficácia de cada ato. Como o chamado dEle a uma freira albanesa do século XX para confortar os moribundos de Calcutá. Ou como Bartolomeu de las Casas, no século 18, que se sentiu chamado a denunciar o tratamento brutal dos povos indígenas nas Américas – e foi completamente ignorado durante sua vida. Indo mais longe, como aquele patriarca que recebeu a ordem de levar o seu único filho – produto de milagre e graça – e sacrifica-lo no Monte Moriá.
Nosso Deus não parece se impressionar com eficiência, eficácia ou a nossa transformação em seu mundo. Ele se interessa pela obediência. O que Ele anseia não é ver um povo que faz a diferença no mundo, mas um povo que ouve o seu chamado e responde com amor – não importando se a ordem for absurda ou impossível.
Quando o foco é a obediência amorosa ao Pai, qual é a diferença se não vemos resultado? Que diferença faz se o mundo e a igreja não forem transformados por nossa luz? Quando nossa motivação é o resultado, estamos fadados à decepção, porque vivemos em um mundo totalmente caído que é teimoso e resistente à transformação. Mas quando o foco é a obediência a um Pai celestial e soberano, que em amor está redimindo sua criação em Seu próprio tempo e de Sua própria forma (quase sempre misteriosa) – como ficaremos desencorajados?
Na Sua providência, Deus levantou homens e mulheres que atacam a igreja-normal, igreja-programa, igreja-manutenção institucional. Eles estão dizendo a verdade e coisas vitais sobre a igreja. Estão perturbando o estabelecimento religioso, irritando a ordem social pietista, causando um caos santo! Eles são profetas em nosso meio os quais devemos honrar e a quem devemos ouvir.
E pelos quais devemos orar – para que eles mantenham os olhos não no prêmio da transformação, mas que os seus ouvidos continuem a ouvir e obedecer aquela voz que os chamou ao ministério no início. Somente então eles estarão entre nós, nos desafiando e encorajando, mesmo quando as situações nos decepcionarem.
Mark Galli é o editor principal da Christianity Today. Ele é o autor de Jesus Mean and Wild: The Unexpected Love of an Untameable God(Baker).
Um comentário:
Nossa... Que texto revelador e confortante. Pois nos livra de preocupações que não precisamos ter e nos esclarece qual é realmente o nosso papel de manter esse mundo provisório funcionando e não de transformar o mundo, mas anunciar que ele será transformado e acima de tudo obedecer, por mais 'absurda' que seja a ordem.
Adorei Denise... Conheci o blog e já gostei. COntinue abrindo caminhos. Bj Davi Amaro.
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